A PIEDADE

     A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos; é a irmã
da caridade, que vos conduz a Deus. Ah! Deixai que vosso coração
se enterneça ante o cenário de misérias e sofrimentos dos vossos
semelhantes; vossas lágrimas são um bálsamo que lhes verteis nas
feridas e, quando, por uma bondosa simpatia, conseguirdes infundir-
lhes esperança e resignação. que alegria não sentireis! É verdade que
essa alegria tem certa amargura, pois nasce junto com a infelicidade.
Contudo, se não contém a acidez dos prazeres mundanos, também
não possui as pungentes decepções do vazio que estes prazeres deixam
atrás de si. Emana dele uma penetrante suavidade que alegra a alma. A
piedade, a piedade bem sentida, é amor; amor é devotamento;
devotamento significa esquecer-se de si mesmo; esse esquecimento e
essa abnegação em favor dos infelizes é a virtude mais sublime, a que
sempre exerceu o divino Messias em toda sua vida e ensinou em sua
doutrina tão santa e tão sublime. Quando essa doutrina for restaurada
em sua pureza primitiva, quando for admitida por todos os povos,
produzirá felicidade na Terra e nela fará reinar, enfim, a concórdia, a
paz e o amor.
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     A piedade, porém, está muito longe de causar a perturbação e o
aborrecimento que tanto apavoram o egoísta! Sem dúvida, a alma
experimenta, em contato com a desdita alheia e ao voltar sobre si
mesma, um abalo natural e profundo, que faz vibrar todo vosso ser
e vos afeta penosamente; a compensação, porém, é grande, quando
conseguirdes restituir coragem e esperança a um irmão infeliz que se
enternece ao aperto da mão amiga e cujo olhar, úmido, por vezes, de
emoção e reconhecimento, dirige-se docemente a vós antes de se fixar
no céu para agradecê-lo por ter enviado um consolador, um amparo.
A piedade é um estado de profunda reflexão, mas celeste precursor da
caridade, a primeira das virtudes, de quem é irmã, cujos benefícios
prepara e enobrece. ( Miguel, Bordeaux, 1.862).

( O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 13, Tradução da Editora
Auta de Souza )


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