segunda-feira, 26 de setembro de 2016

FOI HÁ DEZENOVE ANOS ATRÁS

      No dia vinte e seis de setembro de mil, novecentos e noventa e sete.
      Deixei a Direção do Sanatório Eurípedes Barsanulfo, depois de nove anos de serviço prestado à causa e a Casa.
      Foram anos de muito aprendizado, que me deu muita experiência.
      Vesti a camisa, prá valer. E valeu!
      Quando assumi a Direção, encontrei setenta internos, sendo quarenta homens e trinta mulheres, todos portadores de deficiência mental, sem previsão de alta, a grande maioria sem nenhuma assistência familiar,  vindos de todos os lugares do Brasil e há muitos anos moradores no Sanatório.
      Palmelo, sempre ofereceu, desde o começo de sua história, tratamento espiritual  conhecido como " Desobsessão ", e por causa disso atraia as famílias que sofriam com esse problema. Os doentes, mais agressivos eram internados no Sanatório, e muitos deles ali abandonados para sempre. Andarilhos doentes, também eram encaminhados para o Sanatório, pelas autoridades competentes. E não saiam mais. E assim sendo,  se tornavam moradores até o fim de suas vidas.
       Entre os setenta haviam quinze, que contribuíam com a Casa, pagando um salário mínimo por mês, e que embora voltassem sempre a serem internados, também recebiam permissão de alta, ainda que temporária.
       Encontrei oito funcionários, que realizavam todas as atividades diárias, junto aos internos.
       O prédio, de construção antiga, apresentava muitos estragos pedindo reforma urgente.
       Não havia banheiro para se tomar banho. No pátio , um tanque, que se enchia de água fria e com um litro, o funcionário e os internos que podiam ajudar, jogavam água, realizando assim o banho de todos.
      A grande maioria dos internos arrastavam correntes nos tornozelos e tinham as mãos amarradas para trás, com tiras de pano ou correntes.
      Era uma tristeza só. A noite eles gritavam muito. A cidade toda ouvia. E muitos tinham medo até de passar por perto do Sanatório.
      E eu, que não era diferente dos demais, fui levada a ser Diretora do Sanatório.
      Na minha primeira semana ali, o muro que separava as "chamadas celas", da rua, caiu todinho, numa noite de chuva, deixando esta parte do Sanatório toda exposta.
      Aproveitei a caída do muro, como uma mensagem de recomeço em todo sentido.
      E graças a Deus, graças a bondade de tantas pessoas que ajudaram, graças ao empenho do Damo, meu esposo, graças ao prefeito da época Walter de Oliveira Júnior, do muro caído, surgiu um novo prédio, com banheiro em todos os quartos, seguindo todas as exigências do Ministério da Saúde.
     Onde antes era tudo cimentado, se cobriu de grama e de plantas.
     A Horta plantada no Sanatório, era modelo, graças ao empenho de senhor José Estêvão que cuidava dela com todo esmero.
     Dr. Humberto Ferreira, Psiquiatra de Goiânia, passou a dar assistência semanal, associando a medicação convencional da área, ao tratamento espiritual com o passe, a desobsessão e a água fluidificada.  E as correntes foram desaparecendo.
      Consegui aposentar mais de cinquenta internos.
      Nos nove anos, desta história de superação, tudo que fiz para a manutenção da Casa, foi com dinheiro emprestado, que peguei em meu nome. Cheguei a dever para cento e oitenta e duas pessoas, que tanto me ajudaram na época. Sem elas nada teria sido feito.
      No dia vinte e seis de setembro , há dezenove anos, entreguei a Direção do Sanatório ao senhor Salú José Martins, a quem coube receber o primeiro pagamento das aposentadorias conseguidas, já direcionando o Sanatório para uma nova função.
      Eu saia, para assumir a dívida que como Diretora do Sanatório havia feito.
      E deixava a Casa pronta, para um novo momento.
      Minha felicidade, foi presenciar os internos que antes arrastavam correntes, estavam agora sentados nos bancos da praça, de frente ao Sanatório, interagindo com as pessoas da cidade.
       Minha felicidade era saber que fiz a minha parte. Foi gerado emprego para muitas famílias e o Sanatório contava com mais de trinta funcionários, todos de Carteira assinada
       Assumir a dívida, para mim, era como continuar honrando tudo que foi feito.
      Nestes dezenove anos... só tenho a agradecer aos generosos corações que nunca me faltaram.
      E peço a Deus que nos abençoe a todos.

2 comentários:

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  2. Dona Vânia, boa tarde! Gostaria de fazer uma pergunta, mas ela não se refere ao tema abordado nesta sua última crônica. Trata-se do seguinte: há uma médium que aparece frequentemente em alguns programas de televisão. Ela mistura elementos do Catolicismo, Espiritismo e, às vezes, até de religiões de raízes africanas. Ela diz que para a psicografia não tem permissão de cobrar, mas para rituais/simpatias ela cobra. Podemos confiar nas informações espirituais filtradas por médiuns que cobram? Os espíritos amigos usam essas pessoas como intermediárias?
    Todos temos muitos defeitos, mas mesmo assim somos médiuns, mas chegar a cobrar acho muito grave. Mas por outro lado, penso que não há um erro maior que o outro...

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