sexta-feira, 3 de junho de 2016

COISAS QUE ACONTECEM

     Vivemos hoje um tempo de muitas informações.  Mas já foi diferente.
      Há quarenta anos atrás, o progresso andava a passos lentos.  Um acontecimento era motivo de assunto por muito tempo, entre as pessoas.
      A imagem da  televisão era preto e branco, e no interior do Brasil, ela entrava no ar a partir das dezoito horas. Dependia de uma torre repetidora em cada Município. Esta torre quase sempre apresentava problemas e deixava a todos do lugar, sem televisão por vários dias. Quando estava no ar, apresentava o Jornal Nacional, Novelas, Futebol e Programas Musicais ou Humorísticos. Poucos eram os Programas informativos de outros assuntos, e nem se compara a televisão atual.
     Mas o que quero dizer com isso é que a gente não sabia de quase nada referente a outras regiões ou Estados do Brasil.
     Nascida em Monte Alegre de Minas, Minas Gerais, em hum mil, novecentos e cinquenta, aí cresci, estudei e me formei como Professora. Em hum mil, novecentos e setenta me casei com Bortolo Damo e vim morar em Palmelo, Goiás.
     Na primeira semana em que cheguei na cidade, ainda não conhecia quase ninguém, recebi de presente um prato de Pequi. Amarelinhos, graúdos. Me assustei. Eu não conhecia Pequi e na cidade onde eu morava ouvia dizer que servia para fazer sabão. Que era uma fruta venenosa e quem comesse morria com a boca e a garganta cheias de espinhos. Pensei comigo mesma:
     " - Será que quem me mandou este prato de Pequi, pensou que eu poderia querer fazer sabão " ?
    A segunda hipótese, me deixou apavorada:
     " - Ou quer me matar " ?
    Quando o Damo chegou em casa e eu lhe mostrei o presente, ele encheu a boca de água e me disse:
    " - A pessoa quis lhe agradar. Aqui em Goiás o Pequi é comida típica, e é muito gostoso. Pode fazer, sem medo, que eu como tudo ".
    Aí eu lhe perguntei: " - E como é que faz "?   Ao que ele me respondeu: " Isso eu não sei. Sempre que como ele já está pronto. Eu só sei  que precisa cozinhar ".
    Então, acreditem se quiserem. Eu resolvi, por mim mesma, partir o Pequi, já que ele era graúdo demais. Depois de mais de uma hora de extremo esforço, estragando duas facas , muitas marteladas e ainda recolhendo no chão uma de cada parte partida, coloquei tudo na panela de pressão e como achei muito duro para partir, imaginei que ia demorar muito para cozinhar. Enchi a panela de água e coloquei no fogão, primeiro em fogo alto, depois em fogo baixo, por duas horas.
   Ao finalizar o cozido, deparei-me com um engrossado, cheio de caroço. A polpa e os espinhos se misturaram, deixando a castanha limpinha. Encantada com prato tão especial, coloquei numa linda travessa e levei para a mesa onde íamos almoçar.
   Quando o Damo viu aquele engrossado estranho, olhou para mim e perguntou:
    " - Que é isto "?
   Eu lhe respondi : " - O pequi ".  Ele comentou:
   " - Eu nunca comi pequi deste jeito. E nem vou comer agora ".
   Fiquei tão decepcionada, depois de tanto esforço, que não sabia o que fazer daquela travessa tão especial. Muito ingênua, pequei a travessa, fui até a casa da vizinha, dona Roxa, mostrar para ela o pequi que eu fiz.
   Ao ver,e saber o acontecido ela começou a rir e riu tanto, que eu tive medo que ela passasse mal.
   Quando ela se controlou, me pediu que jogasse aquele creme fora, que lhe desculpasse por ter rido tanto, mas é que ela nunca pensou ser possível, o que eu consegui fazer. E com muito carinho, ela me ensinou como se fazia o pequi. Aprendi, e confesso que fiz muito pequi gostoso, para alegria do Damo. De minha parte porém, não consegui gostar de pequi até hoje.
    Coisas que acontecem...

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