No dia seguinte ao que eu havia chegado em Palmelo,pela primeira vez, dia doze de janeiro de hum mil, novecentos e sessenta e nove, fui com meus pais até a casa do senhor Jerônymo Candinho, onde ele atendia as pessoas. Ele estava com setenta e nove anos de idade.
Lá chegando, havia muita gente, esperando para falar com ele, para consultar.
Ficamos esperando a nossa vez.
Enquanto esperávamos, ele chamou alguns médiuns para fazer um passe em alguém mais necessitado, e convidou a todos que ali estavam , para receber passe também.
Foi a primeira vez que vi alguém incorporar na chamada ¨Corrente Magnética ¨, que ele chamava de ¨Linha de Incorporação ¨. Quase morri de medo. Segurei firme no braço de meu pai. Ainda bem que o passe demorou pouco.
Após recebê-lo, eu queria voltar para o Hotel Globo, onde estávamos hospedados e nunca mais ver o senhor Jerônymo, porque tinha medo dele.
Como era a nossa vez de ser atendidos, entramos numa sala pequena e nos sentamos diante dele.
Ele conversou com meu pai, minha mãe e em seguida se dirigiu a mim:
- E a senhora, o que faz? Não entendi de imediato, que ele falava comigo, me chamando de senhora. Eu tinha dezoito anos, e estava em estado de medo. Mas, ele insistiu:
- O que a senhora faz? Aí, percebi que ele falava comigo. Então respondi:
- Terminei o Curso Normal. Quero ser professora. Ainda não faço nada.
Ele olhou bem para mim, o que quase me levou ao pânico, em seguida se recostou na sua cadeira, fechou os olhos por um instante. Quando abriu os olhos, estes lacrimejaram. Ele me disse:
- A senhora é mais um que o Professor Eurípedes Barsanulfo manda para Palmelo. No Ginásio Eurípedes Barsanulfo, o seu lugar está garantido.
Eu fiquei apavorada. Como assim? Como lugar garantido no Ginásio? Eu estava em Palmelo, de passagem, era pelo menos o que eu imaginava.
Em seguida, senhor Jerônymo se despediu de nós, dizendo que nos encontraríamos a tarde, no Centro.
Sem entender nada, eu sai dali, arrasada. Só queria ir embora.
Hoje, quarenta e sete anos depois, posso dizer que;
- Lecionei no Ginásio, hoje Colégio Estadual Eurípedes Barsanulfo, por trinta anos.
- Convivi com o senhor Jerônymo durante onze anos, e ele sempre me chamava de senhora, quando se dirigia a mim. Uma vez lhe perguntei, o porque, já que eu poderia ser sua neta. Ele nunca me respondeu o porque e continuou me chamando de senhora. Deixei de ter medo dele e passei a admirá-lo pela sua maneira de ser: enérgico e bondoso ao mesmo tempo. Tudo que fazia era lembrando Eurípedes Barsanulfo, de quem fora aluno, em Sacramento. Não pronunciava o nome de seu professor querido, se estivesse sentado. Se colocava de pé . Obrigada, senhor Jerônymo, por tudo que aprendi com o senhor, nos anos de convivência em Palmelo.
Lembranças que o tempo não apaga...Palmelo, faz parte da minha história de vida.
Obrigada, meu Deus, muito obrigada.
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